TCE fixa seu posicionamento sobre a verba de gabinete das Câmaras Municipais

O entendimento do Tribunal de Contas sobre as verbas de gabinete das Câmaras Municipais foi fixado, ontem, na sessão do Pleno, num processo de consulta que teve como relatora a conselheira Teresa Duere, presidente em exercício do órgão em razão das férias do presidente Fernando Correia.

O consulente foi o vereador Alberto Carlos Souza, presidente da Câmara de Floresta, que fez ao TCE três indagações, a saber:

1) No âmbito do Poder Legislativo, a quem compete a iniciativa de projeto de lei que trate de verba de gabinete?;

2) Do ponto de vista legal, a mesa diretora da Câmara pode rejeitar projeto de verba indenizatória? Em caso afirmativo, em que situações?;

3) Se a verba de gabinete for considerada irregular, qual deve ser a penalidade e quais serão as consequências?

Para elaborar o seu voto, a conselheira relatora partiu do pressuposto de que não há entendimento uniforme dos Tribunais de Contas sobre esta matéria, que por sua própria natureza é polêmica e complexa. Todavia, acrescentou, “todos sabemos que os edis necessitam de condições para que possam exercer suas funções previstas na Constituição e que as Câmaras Municipais estão obrigadas a fornecê-las, devendo para tal proceder a um planejamento orçamentário adequado de forma a evitar a realização de gastos pelas vias excepcionais”.

VERBA INDENIZATÓRIA – Ainda de acordo com a relatora, as chamadas “verbas de gabinete”, de natureza indenizatória, foram criadas para este fim. Mas o que se tem verificado nas auditorias realizadas pelo TCE “é o desvirtuamento do uso desses recursos, discrepantes das finalidades que justificaram sua criação”. Ela disse que o TCE vem punindo com as sanções previstas na Lei nº 12.600/04 – Lei Orgânica do TCE – “o mau uso e o desvio de finalidade de recursos repassados sob este título em face da criação de leis inconstitucionais que permitem que cada gabinete de vereador se transforme em unidade orçamentária autônoma”.

Feitas essas considerações, ela opinou, com o apoio unânime do Tribunal Pleno, que se respondesse ao presidente da Câmara de Vereadores de Floresta nos seguintes termos:

I) Além das funções próprias de Poder Legislativo, as Câmaras Municipais desempenham também funções administrativas que são desenvolvidas pela mesa diretora, órgão ao qual compete, entre outras atribuições estabelecidas em lei ou no Regimento Interno, a prática de atos de direção, administração e execução das deliberações aprovadas pelo Plenário.

II) São de iniciativa privativa da mesa da Câmara os projetos de lei que disponham sobre dotações das verbas destinadas no orçamento municipal à respectiva edilidade, bem como aquelas que disponham sobre organização e funcionamento dos seus serviços administrativos, criação, transformação ou extinção de cargos, empregos e funções dos seus servidores e, ainda, sobre a remuneração destes, observados os parâmetros estabelecidos pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.

III) Ao vereador deve-se assegurar as condições necessárias para o exercício de suas funções constitucionais. A criação de gabinetes dos vereadores somente se dará se forem constatadas a necessidade e a capacidade financeira do Poder Legislativo municipal. A sua instituição se dará por iniciativa e proposição da mesa diretora e deve ser aprovada pelo plenário, que definirá os gabinetes como parte integrante da estrutura organizacional da Câmara. A gestão orçamentária, contábil e financeira é de competência privativa da presidência da Casa, com o auxílio dos outros membros da mesa diretora.

IV) Observadas as disposições constantes na Constituição Federal, na Lei orgânica Municipal e no Regimento Interno da Câmara, o presidente, a quem devem ser dirigidas inicialmente as proposições, poderá deixar de receber os projetos de lei que sejam manifestamente inconstitucionais, ilegais ou antirregimentais, inclusive quando versarem sobre matéria cuja iniciativa é privativa da mesa diretora.

Gerência de Jornalismo (GEJO) / Diário Oficial de Pernambuco, 03/02/11

3 comentários

  1. joao batista rodrigues

    Na verdade, não houve um posicionamento do Tribunal de Contas acerca das verbas de gabinete ou indenizatorias. O Tribunal apenas opinou acerca da criação de gabinetes dos vereadores, e ainda sobre os aspectos formais das leis que disponham sobre a organização administrativa das Câmaras. Precisamos de um posicionamento firme deste respeitado tribunal acerca das verbas indeizatorias. Podem ser instituidas ou não? pode haver ressarcimento das despesas feitas por vereadores no exercício do mandato? A Assembleia legislativa possui verba indenizatoria, é legal? qual a diferença entre o legislativo estadual e o municipal para efeito das verbas indenizatorias?

    João Batista Rodrigues

  2. Elson Ribeiro dos Santos

    É claro que a relatora manifestou favorável a verba de gabinetes, o que realmente precisamos nós Vereadores é respeitar os principios Constitucionais que noteiam o gasto do dinheiro público. Significa que a verba de gabintes seja usadas relamente pra dar condições de os Vereadores cumprirem suas atividades legislativas.

  3. Washington Cadete

    Nas pequenas câmaras de vereadores, pelo Brasil afora, na verdade, a denominada “verba de gabinete”, serve de aumento de subsídio. Vereadores casam as notas de despesas com o valor total da verba e se apropriam dos valores. A verba de gabinete deve ser administrada, quando necessária, pela mesa diretora, que deve autorizar as despesas e não transferir os valores aos Senhores vereadores, para fazerem a comprovação de gastos, com notas “frias”. Na verdade o Tribunal não respondeu quais as consequências, em relação aos vereadores que tem verba de gabinete tida como irregulares. Daria inegibilidade? É certo que dá ação de improbidade. É bom verem que a maioria dos estados vem se posicionando contra a denominada verba de representação dos Senhores Presidentes, outra imoralidade.

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