De acordo com dados publicados pelo site worldometer (dados disponibilizados em 14/04/2020), referência no tocante ao acompanhamento do coronavÃrus no mundo, o Brasil ocupa a 133ª posição em termos de testes realizados (proporcional a sua população), a despeito de já sermos hoje o 11º paÃs em número de óbitos decorrentes da doença.
A média de testes nos 10 (dez) paÃses a frente do Brasil, por milhão de habitantes, é de 9.600, enquanto que o Brasil testa Ãnfimos 296. Na mesma proporção, a Itália e a Alemanha realizam, respectivamente, 17,7 mil e 15,7 mil testes. Os EUA, 9,2 mil.
Se olharmos apenas para a América Latina, o Brasil somente fica à frete de BolÃvia e Guiana, com 187 e 271 testes, respectivamente, pelo mesmo milhão de habitantes. A média da América Latina é 1.400 testes. A Venezuela testa 26 vezes mais que nós.
Em números absolutos, Venezuela, paÃs com graves problemas econômicos e sociais, que tem uma população equivalente 13,3% a do Brasil, já realizou 225 mil testes, enquanto que o Brasil 63 mil. O Chile, que tem uma população equivalente a 8,5% da nossa, fez 91,8 mil testes. Peru, outro exemplo, cuja população equivale a 15% do Brasil, realizou 109,3 mil testes.
Definitivamente, o paÃs peca de forma relevante naquilo que é um dos pilares fundamentais no combate à doença. Há Estados que os testes estão praticamente reservados a profissionais de saúde ou casos mais agudos, como se tem verificado em Pernambuco. Mesmo assim, a despeito de tão poucos testes, em números absolutos, o Brasil já é o 11º em números de casos confirmados. Considerando os dados do dia 14/04/2020, o paÃs ocupou a 9ª colocação, em relação a número (absoluto) diário de casos confirmados, e quando a referência é o número de óbitos divulgados num dia, o paÃs assenta lugar na 8ª colocação.
Não menos importante é registrar que, além de testar pouco, demora demasiadamente para apresentar resultados. É comum exames com mais de 05, 10 dias, para ter um resultado. Há casos de pessoas enterradas sem que se tenha a prova da doença, fazendo com que as famÃlias, diante da suspeita, não tenham o direito de se despedir dignamente dos seus parentes.
O paÃs enfrenta um cenário dramático. É muito difÃcil realizar qualquer planejamento ou executar uma polÃtica pública diante de um cenário tão impreciso e disperso, sobretudo num paÃs continental, com enormes e peculiares caracterÃsticas. E como se não bastasse, hoje, os governadores tocam seus Estados com pouco e intempestivo apoio material federal, em evidente falta de coordenação e clara inabilidade por partes de alguns.
Sem dados/evidências, não há análise; sem análise, não há previsão; sem previsão, é mera opinião. Inacreditavelmente, aquele que deveria ser a maior autoridade do paÃs, o presidente, tem se valido de mera opinião, divertindo-se com ironia, debochando da ciência e desprezando as vozes especializadas, em claro aceno à quilo que para muitos é um teste de psicopatia, que busca esconderijo na anarquia.
É escandalizador o conjunto de atitudes depreciativas patrocinadas pelo presidente da república (e aqui escrevo, mais uma vez, com letras minúsculas). É de causar perplexidade ver aquele que deveria ser exemplo, desafiá-los, desdenhar do problema, minimizar mortes, apresentar “estatÃsticas” delirantes, desmentidas em curtÃssimo tempo, apoiando a descrença, por mero deleite de quem desenvolve uma patologia com vaidade, razão pela qual não há reversão ou sequer um pedido de desculpas, opção reservada, com exclusividade, a quem possui dignidade.
Escrito por Rogério de Almeida Fernandes
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