As eleições na web

Ao longo dos últimos meses, candidatos de todo o Brasil tuitaram, cometeram gafes, subiram fotos no Flickr, criticaram reportagens da imprensa, descobriram e abandonaram a internet. Alguns apareceram na web apenas para não parecerem obsoletos. Outros acreditaram que seriam salvos do anonimato do pouco tempo televisivo. A web não influenciou decisivamente as eleições brasileiras – principalmente a presidencial -, mas o uso livre de sites como o YouTube e o Twitter não pode ser ignorado. A campanha online existiu, e seus efeitos também. Mas o que significaram?

A campanha eleitoral de 2010 foi a primeira em que a internet pôde ser usada livremente, por conta de uma nova legislação aprovada em 2009. Antes, a rede estava sujeita às mesmas restrições aplicadas à TV e ao rádio. Mas sucesso na internet não se transformou necessariamente em intenções de voto.
Durante toda a campanha, a candidata do PV, Marina Silva, foi mais pesquisada no Google do que o tucano José Serra – às vezes até mais do que a petista Dilma Rousseff – e permaneceu em terceiro nas pesquisas eleitorais. O mesmo vale para o Twitter: Serra foi o que melhor usou a ferramenta entre os três principais candidatos à presidência, de forma pessoal, falando sobre música e cinema e respondendo perguntas (inofensivas) dos seus seguidores; Marina é a que cresce mais rápido, mesmo tendo usado o serviço de uma forma bem mais burocrática que Serra; mas é Dilma, a que tem menos seguidores entre os três, que lidera as pesquisas.

“A campanha na internet é restrita às pessoas incluídas digitalmente, por isso o impacto não é tão grande, principalmente em uma eleição presidencial”, afirma Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro. Cerca de 40% dos brasileiros com mais de 10 anos usaram internet em 2009 e a penetração de banda larga no país é menor do que 6%.

O tamanho da internet brasileira fica ainda menor se comparado com a mídia mais consumida no país: a televisão. De acordo com o IBGE, 95% dos lares do país têm aparelhos de televisão – e a TV é historicamente o principal veículo eleitoral. Uma pesquisa do Datafolha feita no fim de julho mostrava que 65% dos entrevistados preferiam a TV para obter informações sobre candidatos. Jornais apareciam em segundo, com 12%, e a internet em terceiro – empatada com o rádio -, com 7% de preferência.

A força da televisão ficou óbvia após o início do horário gratuito eleitoral. O distanciamento da petista Dilma Rousseff na liderança das pesquisas só veio depois do início da campanha televisiva. A televisão também influenciou a internet: depois de aparecer em um debate, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda, virou trending topic no Twitter (a lista de assuntos mais comentados no site). A campanha de Plínio – que tem apenas 1% das intenções de voto e via de regra é candidato apenas para divulgar o PSOL – foi uma das mais comentadas na rede.

“Estamos aprendendo. Muita coisa ficou a desejar e o potencial de uso ainda foi pequeno”, afirma Lemos, para quem a maior frustração da campanha foram com as doações pela internet, que praticamente não existiram. Mas Lemos acredita que a experiência foi positiva. Ele destaca o uso de duas ferramentas: o Twitter e o YouTube. “No Twitter foi onde os embates aconteceram”, diz. Candidatos usaram a ferramenta para comentar reportagens, para se criticar, para se acusar. A importância do YouTube teve mais ligação com os eleitores. “Houve uma recontextualização de material da campanha, gente editando vídeos com erros dos candidatos, fazendo piadas com as propagandas eleitorais”, afirma Lemos.

Algumas vezes o que era comentado no Twitter chegou aos meios de comunicação tradicionais. “Pautando a imprensa, a internet transcendeu o meio”, afirma a cientista política Alessandra Aldé, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O vídeo Dilmaboy, em que um jovem faz uma paródia da Lady Gaga pedindo votos para a candidata petista, fez sucesso na internet e depois virou notícia nos veículos jornalísticos do país. O palhaço Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo, logo que começou sua campanha com o slogan “pior que tá não fica”, bombou na web. A sua candidatura ficou conhecida no país inteiro.

Outro aspecto da internet é que o conteúdo não desaparece. “O que foi feito na campanha vai continuar lá depois das eleições”, afirma Lemos. “Isso pode ser usado para cobrar os candidatos eleitos.” Segundo Lemos, o poder da internet ainda é pequeno para conseguir votos, mas a rede serve para construir (e destruir) capital político, que pode depois ser aproveitado pela sociedade.

Será interessante ver o uso que se fará de ferramentas como o Twitter em 2012, quando teremos eleições municipais para prefeito e vereador. “O papel vai ser muito mais importante, a conexão é mais próxima”, afirma Lemos. “Já teve um pouco disso até para deputado estadual.” Segundo Lemos, a internet estimula o voto de opinião, em que o eleitor escolhe o candidato pelos ideais, não por outra ligação qualquer. Nas próximas eleições, continuando a internet livre das restrições da mídia tradicional, a web deve ganhar cada vez mais importância.

Fonte: Época

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