Site divulga gastos, mas de forma genérica e sem transparência
Â
Os 81 senadores e outros cinco suplentes gastaram R$ 10,9 milhões no ano passado com despesas extras de locomoção, hospedagem, contratos de consultorias, locação de escritórios, entre outros gastos, graças à chamada verba indenizatória – que funciona, na prática, como complemento salarial de R$ 15 mil a que todo parlamentar tem direito.
Â
Considerada uma caixa-preta, a aplicação da verba indenizatória só começou a ser divulgada em 2008, no site do Senado, mas pouco contribuiu para a transparência. Na página eletrônica, as despesas são justificadas de forma genérica, em cinco categorias: 1) locomoção, hotel e combustÃvel; 2) compra de materiais de escritório; 3) locação de imóvel; 4) contratação de pesquisas e consultorias; 5) divulgação da atividade parlamentar. Não há especificação de quem recebeu os recursos nem o que foi pago. As notas fiscais ficam com a Secretaria de Fiscalização e Controle. Cabe ao Tribunal de Contas da União (TCU) a conferência das prestações de contas, mas isso é feito apenas por amostragem.
Â
Criado em 2003 pelo então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o benefÃcio na prática complementa os salários dos parlamentares, de R$ 16,5 mil, e serve para custear atividades em seus Estados de origem. A maior parte é usada com passagens, combustÃvel e hospedagem. Nem todos os senadores, porém, usam a verba.
Â
Só quatro optaram por abrir mão do dinheiro
Â
Apesar de os senadores que usam a verba indenizatória afirmarem que o dinheiro é imprescindÃvel para a atividade legislativa, alguns parlamentares simplesmente não usam os recursos ou gastam uma quantia bem abaixo da média. Na lista de senadores e suplentes, apenas quatro deles não gastaram nem um centavo dos R$ 15 mil colocados à disposição por mês: João Vicente Claudino (PTB-PI), Marco Maciel (DEM-PE), Pedro Simon (PMDB-RS) e Jefferson Praia (PDT-AM).
Â
Outros que figuram na lista dos senadores mais atuantes conseguiram passar 2008 com gastos moderados. O lÃder do PSDB, Arthur VirgÃlio (AM), por exemplo, usou R$ 15.696 em todo ano passado. Tasso Jereissati (PSDB-CE) utilizou R$ 27.865 na mesma época.
Â
Em seu quarto mandato como senador, Pedro Simon, que nunca usou a verba indenizatória, diz ser contra o recebimento dos recursos. “Defendo a tese que a gente devia ter a verba do salário. Se ele é pouco, tem que aumentar”, afirma. De acordo com Simon, o parlamentar já tem direito a telefone, apartamento funcional ou auxÃlio moradia, passagens aéreas e assinaturas de jornais e revistas. “De repente, inventaram mais R$ 15 mil para pagar jantar, alugar carro, contratar jornalista. Não concordo.”
Â
Em 2007, uma liminar da 3ª Vara Federal do Distrito Federal chegou a suspender nas duas Casas o pagamento da verba. A ação, derrubada logo em seguida, foi proposta pelo ex-deputado federal João Cunha, que argumentou que a verba é inconstitucional.
Â
Fonte: Jornal do Commercio